quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 12 comentários

Sal

                                                                                                O amor é um poço à nordeste,
                                                                                                e a sede é sem mapa.

Você abre a porta, e há
uma pausa desajeitada:
entre as batidas do coração
e a cadência do relógio,
a convergência de ímpetos e trajetos
nesse quarto, nesse dia, nessa vida.

No alvoroço quiescente
que antecede o som da sua voz,
seus olhos em mim,
um sorriso em todo corpo.

Naquele momento entre as palavras,
enquanto a antecipação flameja pelas veias,
é a soma disso tudo
que seca minha garganta.

 
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014 16 comentários

Prenda


No auge da tempestade,
saio para assistir
e, ao voltar,
trago no cálice das mãos
um granizo
do tamanho de uma bola de gude,
um gomo
caído das nuvens
fendidas por relâmpagos.

Fascinado,
eu me esqueço
da possibilidade de quebra
das vidraças, desconheço
as advertências de minha mãe
e seu rosário
a postos para oração,
o cobrir sobressaltado de espelhos 


                                                                (um caso antigo
                                                                entre minha avó
                                                                e trovoadas ancestrais).

Observo
meu bocado do firmamento
derreter – levo-o aos lábios,
provo dos ventos glaciais
e das noites polares.

Enquanto a chuva cai
mais suavemente
e o trovão ressoa
mais distante,
a tempestade se dissolve
doce
em minha língua.


 
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