A espera é uma forma de animação suspensa.
O tempo se solidifica: um peso morto.
Somos reprimidos,
rendidos imóveis e desamparados.
Somos castigados,
não por uma ofensa nossa,
mas por aqueles que nos impõem a espera.
E a dor está em saber
que nosso recurso mais precioso
– uma fração de nossa vida –
está sendo roubado,
irrevogavelmente perdido.
Não sei pormenorizar
qual revés me vergastou
com tal veemência
que me fraturei em pedaços,
qual cacos de espelho ao chão.
Hoje,
cada vez que junto os estilhaços,
desponta um ser diferente,
mil em um
e um entre milhares,
um mosaico onde se enxerga
lascas de mim em cada parte
e nenhum reflexo
onde me caiba
inteiro.
)
Para Umberto Eco
(
É mais prudente e
por cautela mais sábio
não falar de mim
: ou me louvo
o que é vaidade
: ou me desonro
o que é estupidez
melhor que os outros
descubram meus defeitos
que a inveja possa
corroer sem que eu sofra
muito dano
;