segunda-feira, 29 de outubro de 2012 12 comentários

Caixa de Pandora


Guerrilha de informação,
reduzindo a comatosos
todos os fãs de telejornais.
replay configura
um diverso balé:
o corpo que cai,
cem vezes
alvejado pela metralhadora,
é mil vezes
perscrutado pela câmera.

Guerra de slogans,
grafitos em chamas,
mensagens não percebidas.
A razão em linha de fuga.
O show da vida,
a vida em show.
Dissolvendo as antenas
parabólicas da certeza.
Invadindo a cabeça
complacente do rebanho.

Mas querer ter muita convicção
não leva a muita coisa:
a angústia sem soluções
é o leitmotiv da década.


(Meu primeiro poema "publicado", Revista do Corpo Discente da UFMG, há 25 anos).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012 16 comentários

Da estratégia da fênix


Disparei o coração
na fluência do tráfego,
bem na hora do rush.
Lancei meu sorriso aos pombos,
numa dessas tardes de domingo.
Dissolvi oração e silêncio
nos braços constelados de carências.
Crivei o olhar de canções tristes
e me alastrei sobre nostalgia.

Mas não se engane comigo,
rasgo o invólucro. Deslindo-me:
é só a minha punção de mártir
em busca de um outro
passatempo para o corpo.


sábado, 13 de outubro de 2012 12 comentários

À flor da pele


Eu sou o punhal e a ferida,
eu sou o sopro e o gesto,
suspeitados no imprevisto
de um cálculo de probabilidades.
No fio da navalha
entre o orgasmo e as lágrimas.
Estou compartimentado
nos sete fôlegos do espelho,
nos milímetros do rosto,
no silêncio
transbordado por instantes,
alinhando a palavra
na álgebra do momento.

Desmorono, permaneço,
edifico e me desfaço.
Gigoloteando frases alheias:
“yo sólo quiero que me lleves”.


domingo, 7 de outubro de 2012 12 comentários

Um outro ruído


Sob o silêncio a pino,
caio no regaço da palavra,
que o resto é ressonância.


 
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