sábado, 22 de fevereiro de 2014 10 comentários

Ampulheta

)
Esperando Godot?
(

O tempo se desdobrando
feito um origami às avessas,
num esforço de se fazer
tabula rasa gotejando pelo colo
de uma clepsidra, enquanto
o coração lateja paralelo
às batidas do relógio, deixando
tudo o mais como que contaminado
por analgésicos, sob o extenuante
desânimo do sábado à tarde,
(desincomodado) com o sol
a queimar os móveis da sala de estar.


domingo, 9 de fevereiro de 2014 14 comentários

Concerto inacabado


Para Polly:
sobretudo, amiga.

Nunca escutei uma música plena
em seu piano. Seus dedos nunca
completaram, sem erro, uma melodia.

O máximo que escutei,
quase inteira (sempre um quase), 

foi quando ainda
você morava longe
de mim, sozinha,
e eu me encantei
pelos seus talentos
tantos outros.

Você se mudou
para dentro aqui
e o piano também veio.

Mas ele nunca soou nada todo;
sempre os erros,
reputados à falta de prática.

Também nós dois,
agora, na hora da partida:

aquém de um dueto,
além de qualquer conserto.

Faltou-nos prática em conviver?


 
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