quarta-feira, 27 de novembro de 2013 12 comentários

Litania




Breve corcova de silêncio
: somos tanto e somos nenhum,
com nossas necessidades agudas e apetites
de hienas por verdades hediondas.
O medo nos aguarda nas costas da alma.
Vivemos uma religião de ficções delicadas.
Estamos todos sozinhos.

domingo, 17 de novembro de 2013 12 comentários

Hecatombe


O corpo espanca o carro:
súbito silêncio dos pneus.

Nos lábios da calçada,
a formiga afogada em vermelho
e a bola perdida.


domingo, 10 de novembro de 2013 16 comentários

Momentâneo


Divido o que vivo,
esta vida doidivanas:

de manhã, dádiva
(vivendo cada respiração)

de tarde, dívida
(no contínuo lidar com a vida)

de noite, dúvida
(a vida? Foi-se...)


quarta-feira, 6 de novembro de 2013 14 comentários

Falando em línguas


Eu falava o idioma da areia.
Minhas fricativas ásperas
entalhavam sons farpados
no ar entre nós; minhas sibilantes
deslizavam como se presas
dentro de uma ampulheta;
grãos escarlates cronometravam
minha voz enquanto arranhavam
a superfície da pele dela,
cravando-se em seu crânio
como uma tênue membrana de líquen.

Ela me respondeu na língua da água.
Deixou suas vogais fluírem
para preencher o espaço vazio
dentro de minhas oclusivas,
clamando cada canto
como o mar dentre as rochas,
libertando meu sopro ressonante
de repente –
uma magnólia de sentidos,
uma rara canção
em uníssono
com o vento e a lua.


 
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