Sigo um certo rastro de vida
que não me leva a lugar algum.
Aceito relações feitas de acaso
e circunstâncias: onde
acontece estar meu corpo.
Na verdade,
vivo para buscar
a parte rebelde de mim,
que descansa no sem fôlego
de uma noite sozinha,
vazia,
amarga de insônia.
“O meu ofício é ter alma”.
Mas ainda me desconheço:
entre o que sou e eu
existe um hiato,
virgem como uma dançarina
sem coreografia.
Escrito por
Fabrício César Franco
As palavras não se comportam,
desproporcionam a vontade de escrever,
atormentam a inspiração.
Nada mais natural que se desprendam de mim,
como casca de árvore, como suor,
como pele de áspide. No entanto,
coisa nenhuma se expressa, elas continuam aqui,
recolhidas nesse interstício,
presas no atrito da imprecisão.
E qual o motivo, meu Deus?
Afora as óbvias,
justificativas assim precisas não há.
A autocrítica intransigente,
certa desambição de se fazer lido,
a persistente sensação de que nem
se é tão imperioso colocar minha alma no papel.
Novo tentame. Fixo-me na música das esferas,
conto meu fôlego daqui ao Zen,
busco resignação nos confins da sofreguidão.
Como um regente vacilante, ergo minha batuta
contra a fúria dos constrangimentos da eloquência
: minha escrita torna-se o contraveneno
da mordida do embotamento,
truque de dedos,
bruxedo de vocábulos.
image: Embraced by words
Escrito por
Fabrício César Franco
domingo, 4 de novembro de 2012
Elucubração,
Impermanência,
Inquietude
10
comentários
Itinerários de Sísifo
Conforme nos rendemos
às estrições desse tempo,
às agendas atulhadas
de coisas por fazer,
aos canhotos dos cheques
marcando
impiedosamente
os valores devidos
ao próximo mês,
tornamo-nos um
borrão indistinto
(desatino dos astrolábios)
na ginástica dadaísta das ruas,
onde somos tão só
a roda de um
invisível moinho de galés.
Escrito por
Fabrício César Franco
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