)
Nemo saltat sobrius.
Homens sóbrios não dançam.
(
O que eu queria, é claro,
era o ímpeto e o alcance do épico,
música pomposa, o sentido da vida
mesmo que perfumada
pela vastidão da morte.
Queria tudo isso
em três minutos e meio,
na abrangência de um poente.
Deixei-me ficar,
num favor de aragem,
no vermelho da tarde que se recolhia
no céu e me embriaguei
aquém das letras,
além deste idioma
feito de todos os poemas
que já li sobre o crepúsculo.
O que foi escrito
é insuficiente, precário e falto:
a feição do entardecer era
de páginas vazias em antecipação,
o branco incólume.
Sei que a linguagem é uma ameaça
que se abriga no que foi
empenhado nos textos
e que uma névoa de palavras, provocadas
pelos inconstantes ventos do sentido,
nunca fará jus ao que vi.
Mas que era bonito, isso era.