domingo, 29 de julho de 2012 12 comentários

Ouroboros


)
Para ser lido em qualquer direção.
(

Um começo
finda
o que
um fim
começa.


quinta-feira, 19 de julho de 2012 16 comentários

Nirvana de celofane


)
Nemo saltat sobrius.
Homens sóbrios não dançam.
(

O que eu queria, é claro,
era o ímpeto e o alcance do épico,
música pomposa, o sentido da vida
mesmo que perfumada
pela vastidão da morte.

Queria tudo isso
em três minutos e meio,
na abrangência de um poente.

Deixei-me ficar,
num favor de aragem,
no vermelho da tarde que se recolhia
no céu e me embriaguei
aquém das letras,
além deste idioma
feito de todos os poemas
que já li sobre o crepúsculo.

O que foi escrito
é insuficiente, precário e falto:
a feição do entardecer era
de páginas vazias em antecipação,
o branco incólume.

Sei que a linguagem é uma ameaça
que se abriga no que foi
empenhado nos textos
e que uma névoa de palavras, provocadas
pelos inconstantes ventos do sentido,
nunca fará jus ao que vi.

Mas que era bonito, isso era.

terça-feira, 10 de julho de 2012 12 comentários

Móbile


                                 Avesso
no verso,
                        recidivo
sem rima,
                        eu
contrario.

quarta-feira, 4 de julho de 2012 14 comentários

Liturgia


Um fulgor prematuro hesita lá fora,
na noite que esvazia suas estrelas
num borrão de alvorada.
A fina pele de vidro
deixa entrar um gris inegável
às 5 da manhã, que vem
à queima-roupa contra
o guardado escuro em que durmo.
Ganha uma escrivaninha, uma cadeira,
o quarto como que um
excêntrico experimento de desordem,
alvorecendo em pequenas somas
: uma casa, uma data,
um cortinado de clarão do dia.
Talvez seja isso a comunhão legítima,
essa vida que nos permite
a cada manhã
nova hóstia de sol.
 
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