São dois
os gumes e uma
só ferida
: mesma lâmina.
De todos os assentos
que você poderia ter
escolhido neste amplo, desmedido
ambiente, todo
vazio, todo disponível,
você
escolheu logo
aquele próximo a mim.
Eu estava
sôfrego por solidão,
por um espaço
quieto e escuro
nos minutos desagendados
à força,
para abrandar
os círios de minha alma
nas janelas dos olhos lentos.
Queria me despir
deste indumento
de fruta couraçada
e não cogitar
das desavenças,
desperdícios
que se fomentam no mundo.
Será que você percebeu?
Eu me sentei aqui, entorpecido,
cataléptico,
pesado na cadeira,
pés descalços sobre o assoalho,
a friagem penetrando
a passo
nas solas.
Agora,
estou atento
a cada respiração sua.
Sento-me
empertigadamente
e mastigo minhas balas de goma,
circunspecto,
para não lhe perturbar
de forma alguma.
Encontrei uma rosa em seus olhos,
um oceano em seus lábios.
Só que a rosa
virou ferida.
E o oceano,
Tua verdade
não é
a única,
mas aquela
em que mais
acreditas.
Eis:
em absoluto.
Em resumo:
permanecemos vagos e ermos
dentro de nossos muros.
As pessoas se rechaçam,
arquitetas de suas lidas de vidro,
sofrendo suas mortes a crédito.
E assim, vidas se misturam,
incompletam-se,
e a dúvida subsiste:
se somos o que calamos,
existimos por elipses?
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