domingo, 29 de janeiro de 2012 24 comentários

Verbo




segunda-feira, 23 de janeiro de 2012 20 comentários

Hermético


Ela me telefona 
para dizer que me leu. 
E que continuo 
para poucos.

Esotérico. Não 
facilito as coisas 
para meus leitores. 

Ela é gentil 
ao colocá-los 
no plural. 

Mas isso não 
é surpresa, ela é 
assim há coisa 
de muito tempo. 

Em minha defesa, 
devo dizer que o sentido 
do que escrevo está 
circunscrito pela percepção 
- melhor, pelo indiscernimento - 
do que seus olhos 
arrecadam por instantes, 
uma atmosfera mais 
do que uma 
ciência exata. 

Que você me leia
à margem do texto, 
que eu me abandone 
à castidade perversa 
do nexo recusado. 

Pois, lembre-se, 
de nada adianta a glosa 
- a própria tradução 
faz nascer o intraduzível. 

E eu tenho 
esse teimoso apetite 
que galopa pelo texto, 
que se esbate 
contra as jaulas da mesmice 
e as coleiras do já visto: 
em algum lugar 
nas frestas da prosa 
devem surgir as palavras 
resgatadas da prisão da página, 
pelo ato de se as ler. 

As coisas vivem 
pelo ofício do cotidiano, 
existem de passagem. 

Qual meu revide, 
meu desagravo 
- a desforra? 

Essa intrincada construção 
de frases que mesclam 
esperanças malogradas 
e felicidade efêmera, 
que de fora parecem 
imponderáveis e
intimamente desejam 
que a lisonja possa me fazer 
perdurar no eterno 
da intensidade 
de sua leitura.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012 22 comentários

O rumo dos remos



domingo, 15 de janeiro de 2012 20 comentários

Lepidopterologia



A borboleta tem seu lugar na psicologia 
não por sua fase de crisálida,
seu intrincado mudar de pele,
também notadamente por sua fase de pupa,
temporada de paralisia integral da vontade.

Fascinados, estudamos os sonhos
frustrados da lagarta, que correspondem
tão mal a seu desajeitado corpo preso à terra.
Observamos
como o conflito aparentemente insolúvel
entre aspiração e realidade termina,
afinal, em resignação total, enquanto
a criatura deixa de comer, tece uma mortalha
ao redor de seu corpo, e se prepara para morrer.

Contudo, naquela condição mirrada,
quando a pupa pode ser classificada e posta
em mostruário, algo inesperado, totalmente
imprevisto, ocorre que nos dá o direito
de acreditar no impossível.

Dizem que Psique significa "borboleta" –
cautelosamente ela rasteja de seu casulo,
sua pré-história, desfralda suas asas
e se arroja ao vento.

Eis o que quero
: meu poema que só mortalha caída no chão,
a verdade concreta e póstuma das palavras
ficando para trás, enquanto
o significado finalmente voa para fora da linguagem,
reafirmando sua paixão acesa e aturdida
nos olhos de vendaval 

de quem me lê.

 
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