Ela me telefona
para dizer que me leu.
E que continuo
para poucos.
Esotérico. Não
facilito as coisas
para meus leitores.
Ela é gentil
ao colocá-los
no plural.
Mas isso não
é surpresa, ela é
assim há coisa
de muito tempo.
Em minha defesa,
devo dizer que o sentido
do que escrevo está
circunscrito pela percepção
- melhor, pelo indiscernimento -
do que seus olhos
arrecadam por instantes,
uma atmosfera mais
do que uma
ciência exata.
Que você me leia
à margem do texto,
que eu me abandone
à castidade perversa
do nexo recusado.
Pois, lembre-se,
de nada adianta a glosa
- a própria tradução
faz nascer o intraduzível.
E eu tenho
esse teimoso apetite
que galopa pelo texto,
que se esbate
contra as jaulas da mesmice
e as coleiras do já visto:
em algum lugar
nas frestas da prosa
devem surgir as palavras
resgatadas da prisão da página,
pelo ato de se as ler.
As coisas vivem
pelo ofício do cotidiano,
existem de passagem.
Qual meu revide,
meu desagravo
- a desforra?
Essa intrincada construção
de frases que mesclam
esperanças malogradas
e felicidade efêmera,
que de fora parecem
imponderáveis e
intimamente desejam
que a lisonja possa me fazer
perdurar no eterno
da intensidade
de sua leitura.
Escrito por
Fabrício César Franco
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Elucubração,
Iconoteca,
Inquietude,
Prelúdio
22
comentários
O rumo dos remos
Escrito por
Fabrício César Franco
domingo, 15 de janeiro de 2012
Elucubração,
Equilíbrio,
Escritura,
Impermanência
20
comentários
Lepidopterologia
A borboleta tem seu lugar na psicologia
não por sua fase de crisálida,
seu intrincado mudar de pele,
também notadamente por sua fase de pupa,
temporada de paralisia integral da vontade.
Fascinados, estudamos os sonhos
frustrados da lagarta, que correspondem
tão mal a seu desajeitado corpo preso à terra.
Observamos
como o conflito aparentemente insolúvel
entre aspiração e realidade termina,
afinal, em resignação total, enquanto
a criatura deixa de comer, tece uma mortalha
ao redor de seu corpo, e se prepara para morrer.
Contudo, naquela condição mirrada,
quando a pupa pode ser classificada e posta
em mostruário, algo inesperado, totalmente
imprevisto, ocorre que nos dá o direito
de acreditar no impossível.
Dizem que Psique significa "borboleta" –
cautelosamente ela rasteja de seu casulo,
sua pré-história, desfralda suas asas
e se arroja ao vento.
Eis o que quero
: meu poema que só mortalha caída no chão,
a verdade concreta e póstuma das palavras
ficando para trás, enquanto
o significado finalmente voa para fora da linguagem,
reafirmando sua paixão acesa e aturdida
nos olhos de vendaval
de quem me lê.
Escrito por
Fabrício César Franco
Assinar:
Postagens (Atom)