quinta-feira, 28 de abril de 2011 10 comentários

Receituário


)
Um poema
sob influências.
(

Desconfie do imperativo,
viva no indicativo,
pense no subjuntivo,
sonhe no infinitivo.



quarta-feira, 13 de abril de 2011 16 comentários

Guloseima


 )
Para a minha amantíssima Ivany de Araújo Bonfim,
Dona Ervanildes,
vulgo “A Damascena”,
Tia maior
(

Dizer que ela é quituteira
é menosprezar o todo
de sua ciência. É claro
que ela negará essa informação,
como quem desdenha da própria receita,
contando que errou a mão.
Mas basta provar de seu gnocchi bolognese,
sua broa de fubá com erva-doce,
sua torta de amendoim
eternamente presente nos aniversários de meu irmão,
meu bacalhau com batatas
que fora marinado no leite
para perder o sal desde a véspera –
acepipes mil que se multiplicam
em cores e formas
na cozinha sempre atarefadamente alegre –
para se depreender a seriedade de haver paladar.

Ela vai dizer que são orexias de sobrinho,
a fome da saudade exagerando o sabor.
Não.
Pois mais do que a comida objetiva,
o doce e o salgado que desliza
em delícia pela língua,
é a receita da iguaria sempre
diferente que ela faz surgir
de seu desmesurado carinho
que me faz faminto por seus petiscos.


terça-feira, 12 de abril de 2011 14 comentários

Das suas roupas


É claro que são conchas vazias,
sem esperança de animação.
É claro que são artefatos.

Mesmo se meu irmão
e eu vesti-las ou
se as dermos para outrem,
elas serão sempre
suas roupas sem você,
como seremos, sempre,
seus filhos sem você.


(20 anos sem você...)

domingo, 10 de abril de 2011 6 comentários

Reverberação


Senhora loquaz,
minha mãe articula
meu futuro
nas suas orações
e silencia
minha saudade.


(Felicíssimo aniversário, minha mãe!)

quarta-feira, 6 de abril de 2011 12 comentários

De um amor sem piedade


O amor está morto. 
E quem escreve poemas,
nesse tempo de
átimos e átomos,
está disparando no vazio.

Mas
o verbo amar,
cruel,
acossa-nos
por onde quer que vamos.


domingo, 3 de abril de 2011 10 comentários

Bolero


Eu sou depois, 
                       quase quando.
Ela é demais,
                       onde pleno.

                       Estou ainda,
versículo vinte.
                       Ela permanece,
século vinte e um.


 
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